28.2.08

poemas que dormem na estante XV

Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos…

É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo…

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida…

Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato…
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

Mario Quintana no livro Melhores Poemas da Editora Global

Este poema na verdade dorme mais na lembrança que na estante, pois eu perdi este meu livro do Quintana num Congresso de Poesia no sul do Brasil. Acontece que hoje sentindo saudades, eu lembrei deste poema, e ao lembrar uma frase, encontrei ele por aí.