25.12.10

Um grande abraço na noite da saudade
Para o meu irmão Vitinho


Quero nesta noite
desprender-me do meu corpo
e ir até aí te dar um abraço.
Visitá-lo em algum lugar do espaço
onde os bons constroem morada após partir.

Fostes cedo demais.

Viveu relâmpago por aqui
com amor, alegria e paz.

E agora segue
rumo ao infinito
para viver ainda mais.

Para fazer navios,
esquiar montanhas,
surfar ondas e içar velas,
agora em mares siderais.

Aqui
fizestes o que lhe coube
de coração aberto e fraterno.

O que aprendeu ensinou.

Levou consigo,
o amor,
o abraço das pessoas,
o carinho,
um sorriso (inesquecível),
as flores,
lembranças,
bons momentos.

Levou só
o que trazia
e conseguiu carregar
aí dentro
deste imenso coração.

E deixou um mar de saudades
para inundar a cidade.
No último samba da madrugada
uma bala achada na Lapa.
Numa janela? Na garagem do prédio?
Onde se esconde teu assassino?

Você tombou
te acudiram os amigos
forte como um touro resistiu
quatro dias.

Isso só para juntar todos
e ir se despedindo.

Fez cada um compartilhar histórias
lembrar momentos contigo
rir, chorar
e você lá,
dormindo o sono dos justos,
firme e forte
mostrando tua força de superação.

Cumpriu dia a dia
a tua missão.
Nesse mundo tão pequeno
para o qual foi tão bom.

Navega em paz irmão.
Feliz na imensidão.

Faz festa como nossa mamãe
aconchegando toda a saudade.

A tua e a nossa.

Presente numa certeza
chamada de eternidade.

Me dê cá um abraço.
Conversa comigo.
Bussúla o meu caminho.

Já nasce o sol
na cidade adormecida.

Preciso voltar.

Plano meu espírito
num vôo noturno
sobre a cidade.

Do alto vejo
toda a sua pujança desordenada
de prédios, casas, favelas,
de lixo, a baía poluída
e reconstruo nossa vida
nesta terra perigosa
de São Sebastião.

E te trago comigo
ainda mais vivo
aqui dentro do meu coração.

Dolfo, 2010