19.4.08

inéditos XX

Sobre os rumos poéticos

Quando me arrisquei poeta
desconhecia quantos éramos.

Hoje eu sei que somos muitos
incontáveis as tantas estrelas.

Bradei por aí minhas palavras
e por vezes me recolhi
para lapidar minha lavra.

Nos livros
amadureci a riqueza dos versos
e reconheci que este aprender
não terá fim, será eterno.

Nas ruas, bares,
festivais e espaços culturais
dei vida a muitos poemas
e nestes momentos me senti completo.

E diante a incompletude da vida
sempre busquei sobreviver por outros meios.

A poesia seria meu presente à humanidade.

Até tentei as revistas, os jornais,
alguns catedráticos literários,
alguns poetas marginais,
a cara a tapa nos recitais,
na busca da crítica que me fizesse crescer,
ou do reconhecimento que me permitisse aparecer.

Mas conclui que já estavam comprados
todos os espaços dos jornais.

Há um momento
em que se apaga o sonho de viver da arte.

Mas a arte não se apaga de dentro de você
e vamos sonhando enquanto vivemos.
Amadurecendo nossa essência a cada dia.

Isso sim é viver poesia.

Pousar o verso num espaço livre.

Recitar um poema por prazer
e com um único compromisso:

iluminar o leitor.

Não precisar mais do mercado,
do parecer positivo de doutores letrados,
nem de eventos oba-oba e conchavos.

Ser apenas se inspirar
e deixar-se ser inspirado.

Ser para o desconhecido leitor
um punho ou uma flor.

Arma branca com a qual
ele possa reinventar sua história.

E fazer do seu momento pessoal
de luta, amor ou solidão...

Um momento universal.

(Rodolfo Muanis, Abril de 2008)