20.12.06

poemas que dormem na estante III

(...)

Raramente tenho pensamentos próprios. Quero dizer
Pensamentos oriundos unicamente de minha pessoa.
Minha pessoa é muito mais fraca do que meus pés.
E minha pele e minhas mãos. Meu corpo sabe coisas
Que minha pessoa não. Então tenho pensamento corpo.
Às vezes meu pensamento se concentra em pessoas.
E não quer mais nada. São em geral não muito bons
Pensamentos.
A não ser quando é pensamento de uma boca.

A boca de uma pessoa é capaz de atrair meus mais belos
Pensamentos. O sexo e a voz. O pescoço.
Tenho mesmo fascínio por corpos.
Mãos e pele. Orelhas e odores.
Mas é a voz que mais em alguém me significa.
E atrai.

Palavras querem carne. Desejos querem nome.

(...)

Viviane Mosé no livro Desato
trecho do primeiro poema, Editora Record