Se não fosse porque têm cor-de-lua teus olhos,
de dia com argila, com trabalho, com fogo,
e aprisionada tens a agilidade do ar,
se não fosse porque uma semana és de âmbar.
se não fosse porque és o momento amarelo
em que o outono sobre pelas trepadeiras
e és ainda o pão que a lua fragrante
elabora passeando sua farinha pelo céu,
oh bem amada, eu não te amaria!
Em teu abraço eu abraço o que existe,
a areia, o tempo, a árvore da chuva,
e tudo vive para que eu viva:
sem ir tão longe posso ver tudo:
vejo em tua vida todo o vivente.
Pablo Neruda no livro Cem Sonetos de Amor
Tradução de Carlos Nejar, L&PM Pocket