25.12.10

Um grande abraço na noite da saudade
Para o meu irmão Vitinho


Quero nesta noite
desprender-me do meu corpo
e ir até aí te dar um abraço.
Visitá-lo em algum lugar do espaço
onde os bons constroem morada após partir.

Fostes cedo demais.

Viveu relâmpago por aqui
com amor, alegria e paz.

E agora segue
rumo ao infinito
para viver ainda mais.

Para fazer navios,
esquiar montanhas,
surfar ondas e içar velas,
agora em mares siderais.

Aqui
fizestes o que lhe coube
de coração aberto e fraterno.

O que aprendeu ensinou.

Levou consigo,
o amor,
o abraço das pessoas,
o carinho,
um sorriso (inesquecível),
as flores,
lembranças,
bons momentos.

Levou só
o que trazia
e conseguiu carregar
aí dentro
deste imenso coração.

E deixou um mar de saudades
para inundar a cidade.
No último samba da madrugada
uma bala achada na Lapa.
Numa janela? Na garagem do prédio?
Onde se esconde teu assassino?

Você tombou
te acudiram os amigos
forte como um touro resistiu
quatro dias.

Isso só para juntar todos
e ir se despedindo.

Fez cada um compartilhar histórias
lembrar momentos contigo
rir, chorar
e você lá,
dormindo o sono dos justos,
firme e forte
mostrando tua força de superação.

Cumpriu dia a dia
a tua missão.
Nesse mundo tão pequeno
para o qual foi tão bom.

Navega em paz irmão.
Feliz na imensidão.

Faz festa como nossa mamãe
aconchegando toda a saudade.

A tua e a nossa.

Presente numa certeza
chamada de eternidade.

Me dê cá um abraço.
Conversa comigo.
Bussúla o meu caminho.

Já nasce o sol
na cidade adormecida.

Preciso voltar.

Plano meu espírito
num vôo noturno
sobre a cidade.

Do alto vejo
toda a sua pujança desordenada
de prédios, casas, favelas,
de lixo, a baía poluída
e reconstruo nossa vida
nesta terra perigosa
de São Sebastião.

E te trago comigo
ainda mais vivo
aqui dentro do meu coração.

Dolfo, 2010

7.2.10

Para a árvore mãe

ao filme Avatar

não só acredito,
mas em alguns momentos
sinto

é difícil desligar
dessa veloz e burra
corrida pelo progresso

sentimos muito pouco
as vibrações do todo

e a cada dia nos afastamos
da essência do que somos

parece que usamos errado
tudo aquilo que nos foi dado

isso aqui certamente
é só o começo

onde habitamos
uma carcaça
densa e pesada

não é preciso ciência
para entender ou desvendar
o segredo do universo

só é preciso entrar em sintonia
e sentir

somos parte de um todo
maior e grandioso

talvez
o grande objetivo
deste nosso primeiro estágio

raça humana terrestre

seja apenas aprender
a ser
a cada dia
mais
leve

Rodolfo Muanis, 07 de fevereiro de 2010.

6.12.09

Breve Retorno na Picareta Cultural de 2009

Depois de um certo tempo sem falar poesia por aí, mas sempre escrevendo e recitando os melhores com carinho no ouvido da minha amada, fui prestigiar a Picareta Cultural 2009 na Lapa.

Evento muito bacana, organizado por uma turma nota 10 de Parati sob a batuta do grande Caio Carmacho.

Como era na Lapa fui com tesão para falar este poema que escrevi recentemente em homenagm ao meu irmão. Senti que a galera curtiu. Fiquei feliz.
-------------------------------
Ao meu irmão Vitinho

Foste um cometa
de brilho, luz e força
inesquecíveis.

Em 23 anos
vivestes tudo:

a alegria de ser criança
e brincar o dia com liberdade
conheceu o amor em família
pai, mãe, irmãos, primos, tios
e a cada dia um novo amigo
sempre reunidos
em sorrisos e brindes
em volta da mesa

também chorou
a mais pura lágrima
na tristeza e na saudade
da perda

e sempre soube fugir
da agonia da cidade
para respirar e sentir
a paz da natureza

acampou, surfou, esquiou
atravessou desertos,
montanhas de neve,
se abençoou em Machu Pichu

teve a alegria de ver
o seu time de coração campeão
num Maraca lotado
verde, branco e grená

conheceu e intensamente viveu
todo o prazer do grande amor
único, eterno, verdadeiro e inesquecível

fez pelo mundo
uma imensidão de amigos
aprendeu, ensinou,
compartilhou tudo o que sabia

fez valer a cada momento
o sabor da palavra VIDA

e partiu antes de todos
para esta grande e misteriosa viagem

fez cada um se aprofundar
neste sentimento chamado saudade

e em mim plantou a certeza
da existência
na eternidade.

Rodolfo Muanis, Junho de 2009.

5.3.09

Estaremos sempre juntos irmão!

" A morte não é nada
Eu somente passei para o outro lado do caminho
Eu sou eu, vocês são vocês
O que eu era para vocês, eu continuarei sendo
Dêem-me o nome que vocês sempre me deram
Falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas,
Eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste,
Continuem a rir daquilo que nos fazia rirmos juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,
Sem ênfase de nenhum tipo,
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou,
O fio não foi cortado.
Por que eu estaria fora dos seus pensamentos,
Agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe,
Apenas estou do outro lado do Caminho.
Você que ficou aí, siga em frente,
A vida continua,
Linda e bela como sempre foi."

Santo Agostinho

11.10.08

Este blog saiu de férias

A poesia
me pediu em segredo
que queria
um pouco de aconchego
aqui pelos papéis de casa

pelas gavetas
em cartas e palavras
e até pequenos sarais
exclusivos para minha amada.

Preciso lapidar
o que a caneta
tem escrito.

Aprimorar na poesia
a relação do ser
a questão do porque
entender seu motivo.

O que está por aqui
fica de presente
para ser lido.

O que vem por aí
lapido com carinho
para quem sabe
um próximo
livro.

8.10.08

inéditos XXIV

Bem vestido por dentro

Eu ainda prefiro
a camisa de malha promocional
ou aquela de bloco do carnaval passado
meu jeans surrado e confortável
meu sapato tão usado
e ‘carregado de distâncias’.

Não me critique
se pego os meus 100 do bolso
e compro uma boa garrafa de vinho
e continuo vestindo a moda
de alguns anos atrás.

Prefiro o corpo
por dentro aquecido
a cabeça iluminada de idéias
e o sangue circulando livre pelas artérias

ao invés

de uma capa engomada
e um julgamento pré-concebido
daquilo que o homem pode ser.

Não é pelo meu manequim
que você vai me conhecer.

Se quiseres saber de mim
é melhor abrir aquela garrafa
e brindar comigo pela madrugada.

Aí sim vai sair encantada!

E nunca mais se iludirás
com um homem de terno e gravata.

21.9.08

canções que tocam no meu ipod (I)

INVENTO
Vitor Ramil

Vento
Quem vem das esquinas
E ruas vazias
De um céu interior

Alma
De flores quebradas
Cortinas rasgadas
Papéis sem valor

Vento
Que varre os segundos
Prum canto do mundo
Que fundo não tem

Leva
Um beijo perdido
Um verso bandido
Um sonho refém

Que eu não possa ler, nem desejar
Que eu não possa imaginar

Oh, vento que vem
Pode passar
Inventa fora de mim
Outro lugar

Vento
Que dança nas praças
Que quebra as vidraças
Do interior

Alma
Que arrasta correntes
Que força os batentes
Que zomba da dor

Vento
Que joga na mala
Os móveis da sala
E a sala também

Leva
Um beijo bandido
Um verso perdido
Um sonho refém

Que eu não possa ler, nem desejar
Que eu não possa imaginar

Oh, vento que vem
Pode passar
Inventa fora de mim
Outro lugar

Vitor Ramil e Marcos Suzano no disco Satolep Sambatown

--------------------------
Dia cinza
frio e chuva

pedalei

passei a Baía
pouso de lindo poema

passei o Aterro
chão do primeiro tombo

passei a Marina
morada de antigos sonhos

passei o MAM
residência do silêncio

cheguei ao aeroporto

na rampa aviões decolavam
pássaros de ferro desafiando a tempestade

e voltei

uma água de coco
uma canção sobre o vento
que soprou aqui por dentro

Dolfo, 21 de Setembro de 2008.

11.9.08

Poemas que habitam a minha memória (I)

MANUAL PARA ASSASSINAR FRANGOS
de Martinho Santafé


Às vezes, era o Rio Paraíba do Sul
que desmesuradamente crescia.
E as ruas ficavam cheias de escorpiões,
cobras d´água, lacraias com mil pernas...
parecia um monstro epiléptico e barrento
numa corrida maluca até o mar.

A gente torcia para que o rio subisse mais,
cada vez mais,
para que alguma tragédia
se consumasse, como no cinema.

Queríamos ver casas desabando,
árvores arrancadas à força,
as meninas, descalças,
impedidas de ir à missa dominical,
bêbados patinando no caos,
arrastados até a foz de Atafona,
numa infinita poça de lama e cuspe
que mandávamos para o céu.

Estávamos prenhes de vida
e queríamos a morte de mentirinha.
Sonhávamos com o apocalipse doméstico,
com a bomba asfixiando nossos pré-sonhos.

O primeiro amor estava ao lado,
nas aulas do Liceu
que, às vezes,
assassinávamos com delicado prazer.

No verão de 66,
o rio ficou irado de verdade,
se emputeceu, invadiu o baú
onde eu guardava meus gibis
trocados antes das matinês do Cine Coliseu.

Adeus minha coleçãotão preciosamente inútil
de David Crocket, Buffalo Bill, Zorro,
Rock Lane, Cavaleiro Negro e etc.

E me lembro dessa grande enchente,
da aniquilação dos pessegueiros,
das parreiras, dos limoeiros, dos frangos,
da horta que minha avó tão bem cuidava.

Abius, mangueiras, bananeiras,
caramboleiras, formigas,
tudo se foi com o rio,
com essa referência geográfica
e conceitual que ainda hoje tento traduzir.

Tudo se foi com o boi morto
no meio da correnteza,
coberto de urubus.

E no radinho de pilha de s´eu Bertolino
(que, em uma canoa, ajudava as famílias
a recolherem seus pertences),
os Beatles cantavam “I wanna hold your hand”.

Comecei a crescer com os Beatles
(e eles comigo),
a respeitar o rio e a temer s´eu Leleno,
meu vizinho e flamenguista doente,
que nas tardes de domingo,
quando o seu time perdia,
enfiava a porrada na Dorotéia,
sua mulher - e maior torcedora do Flamengo,
por motivos amplamente justificados.

Também havia a Josete,
que ajudou a me descriar
e que tinha um namorado chamado Jomar,
um refinado sem vergonha.

Em 62, o Brasil foi bi-campeão
e Josete imaginava
Jomar fazendo gols nela.
Se Josete gozava, o fazia discretamente,
como os anjos gozam. No silêncio.

Josete, que hoje é avó,
era filha de Neco Felipe,
um negro caolho e feliz,
que organizava os forrós
em Conselheiro Josino,
interior de Campos dos Goytacazes.

Forrós animados com cachaça, lampiões,
sanfona e alguma voz desdentada,
uivando para a Lua, nas quentes madrugadas.

Além de Neco Felipe,
conheci outras pessoas felizes
que moravam naquela vila
no verdadeiro cú do mundo,
entranhada na miséria e nos canaviais
(os dois sempre andaram juntos),
com um cemitério
na beira da estrada.

Minha cabeça
se embaralhou toda:
- como é que as pessoas
podiam ser felizes
em Conselheiro Josino?

Como é que as pessoas
podiam ser felizes
naquela merda,
ao lado de um cemitério mambembe,
perto de um rio carregando tudo?

Como é que as pessoas
podiam ser ?
Mas as pessoas

eram

e algumas até se
foram.
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Me lembro do impacto de quando ouvi este poema a primeira vez. Era o IV FestCampos de Poesia Falada, onde eu apresentava um poema, e estava lá o próprio Martinho Santafé, poeta de Macaé, que recitou esta pérola. Ele havia ganhado o mesmo festival no ano anterior com este poema. Agora, em meu novo trabalho, o rio que carregava tudo, novamente se colocou diante de mim. E vai ser bom poder fazer algo de bom pelas pessoas que serão, pelas que são, e até pelas que já se foram.

8.9.08

inéditos XXIII

Escultor de Palavras

Na noite passada
enquanto nos amávamos
variando as posições do Kama Sutra sobre o lençol...

Tive a vontade de ser escultor.

Para talhar
em ferro, bronze, ouro, prata, madeira
a delicadeza feroz do nosso amor.

Deixar exposto às intempéries,
eternizado em praças,
ruas, museus, casas,

a perfeição de nossos encaixes.

Transformar esta vida
estes momentos de puro gozo

em arte.

Aos falsos doutores da Academia

Tenho certeza, de que o pouco que sei, ainda é bem maior, do que o muito, que eles acham que sabem.

28.8.08

inéditos XXII

vazio

nenhuma palavra
ou melhor
apenas uma
(eita)
no peito uma dor

suave dor
brisa na espinha

o dia segue
é preciso sorrir
fingir que tudo está bem

ir para a aula
conversar em família
ler teorias

na noite penso nela
seguro os dedos
para não ligar

sinto-a bem

forte e sorrindo
sinto o seu brilho
de longe, distante

não sou dele o motivo

já fui

revejo nossas fotos
nelas há felicidade
que num belo momento
se dissipou, e em mim

virou saudade

não sei
onde guardar meu amor
dolorido e machucado
pelo silêncio

nunca mais cartas
nunca mais mensagens
nunca mais ela sorrindo
me chamando de moço lindo

fiquei mal acostumado
com teu tom de desejo
de paixão embalando o peito

ela não me quer mais
e isso dói fundo
pois o amor ainda é muito

mas

sinto-a bem

forte e sorrindo
sinto o seu brilho
de longe, distante

não sou dele o motivo

irei me curar

entre batuques
esta cidade
e o mar

amanhã cedo
começo a renascer

21.8.08

O dia em que quase morri (VI)

Cena 6

um médico chega

- o que houve?

- me fecharam na estrada

ele olha as radiografias e diz:

- você nasceu de novo
- só quebrou a clavícula

- mas e essa dor no peito doutor?
- eu não consigo respirar

- isto é dá pancada
- você está todo inchado por dentro
- vai doer quando tossir, rir e respirar
- mas depois vai melhorar

- você consegue andar?

levanto da maca e caminho com dificuldade

- vá a sala de gesso imobilizar esta clavícula
- depois limpe os ferimentos e está liberado

19.8.08

O dia em que quase morri (V)

Cena 5

- chegamos!

saio da ambulância em uma maca

luzes
pessoas
luzes
pessoas
luzes
pessoas

sou deixado em uma sala
de luzes apagadas
onde ao fundo
uma mulher grita

o médico da ambulância fala:

- acidente de moto
- mas ele está bem
- só sofreu uma lesão de tórax

continuo respirando lentamente
e com muita dor

o telefone toca
atendo

- sofri um acidente
- mas estou bem
- no hospital de Itaboraí

- e esse aqui?

- leva pro raio-x!

luzes
pessoas
luzes
pessoas
luzes
pessoas

1, 2, 3
meus ossos soltos
batucam entre a maca
e o raio-x

luzes
pessoas
luzes
pessoas
luzes
pessoas

agora estou num corredor

chegam dois patrulheiros

- o que houve?

- me fecharam, um carro branco...

- a pessoa foi presa
- responderá por tentativa de homicídio
- você terá que ir na delegacia depor
- sua moto e documentos estão na PRF de Rio Bonito

18.8.08

O dia em que quase morri (IV)

Cena 4

- sente as pernas, movimenta os braços?

- tudo ok. só dói aqui no peito,
- lado esquerdo
- não consigo respirar

me imobilizam todo

1, 2, 3

me colocam na maca
sinto os ossos soltos por dentro
me colocam na ambulância.
me dão uma máscara com oxigênio

a porta se fecha,
mas a ambulância não sai
pessoas discutem lá fora
a porta se abre
uma pessoa entra e fala:

- guarda meu nome
- Sargento Alves
- do Corpo de Bombeiros de Cabo Frio
- eu vinha atrás de você na estrada
- eu vi tudo. prendi o cara lá na frente

ele me entrega um papel
com nome e telefone
e coloca no meu bolso

ele sai
a porta se fecha,
mas a ambulância não sai

a dor é forte, o ar e pouco, a agonia imensa

a porta se abre e alguém grita:
- me perdoa! me perdoa!

faço sinal de positivo
eu só quero ficar vivo

a porta se fecha
a ambulância começa a andar
a cada sacolejo muita dor

16.8.08

O dia em que quase morri (III)

Cena 3

uma mulher nervosa fala:
- nossa, aqui é foda.
- é um trecho deserto da br 101

um rapaz fala:
- a ambulância sai de Itaboraí
- deve levar uns 10, 15 minutos

o sol do meio-dia
é luz forte no azul.
iluminando meu rosto

não é a luz do infinito
é só o sol
ainda não é o meu fim

sinto vontade de chorar

penso na minha família
na minha amada querida
não posso morrer
não quero morrer

rezo

alguém me pergunta como foi

- um carro me fechou

muita dor para falar

respiro lentamente
e me concentro
em ficar vivo

chega a ambulâncias dos bombeiros

14.8.08

O dia em que quase morri (II)

Cena 2

deito na grama ao lado da estrada
tento respirar bem devagar
muita dor

penso:
- devo estar todo furado por dentro
- hemorragia interna
- em breve vira o sangue pela boca
- o corpo frio. a morte

- Deus não me deixe morrer!

saco o celular do bolso
digito 1 9

chegam pessoas
- ele está vivo
- está respirando
- abre a jaqueta dele
- sente dor em algum lugar?

- só no peito

- lado esquerdo
- não consigo respirar

penso:
- só tenho um pulmão

- o direito
- vou com ele até o fim

começo a rezar

uma mulher grita:
- ele está tremendo!

- ele está gelado!

penso:
- se meu coração parar eles saberão me reanimar?

rezo

puxo e solto o ar
lentamente

muita dor
profunda dor no peito
bem perto do coração

12.8.08

O dia em que quase morri (I)

Cena 1

céu azul
estrada tranqüila
veículos se aproximando no retrovisor

(fechada)

céu
asfalto
céu
asfalto
céu
asfalto

corpo rolando
pelo matagal da estrada

moto caída no acostamento
20 metros da minha direção

fico em pé

tiro o capacete
movimento braços e pernas

tudo ok

- não acredito. não quebrei nada?

coração a mil por hora

puxo o ar

profunda dor no peito
não consigo respirar

30.7.08

Flip 2008! Poetas pelas ruas de Paraty! Parte 3

Uma Grande Picareta

p/ Caio Carmacho


picaretagem geral
inaugural
cerveja cachaça
e muita gente
fazendo do barato
um momento sensacional

festa democrática
num off-flip de Paraty
era chegar sorrir e curtir

Caio Carmacho
piracicabano
do sorriso fácil
e copo cheio
paratyando
já alguns anos

Poeta e agitador cultural
acima de todos os conchavos
montou palco nas ruelas de pedra

para os desconhecidos se conhecerem
para todos perceberem

que a literatura
que a música

estão acima de ter que ser oficial
basta ser sincera e original

para irrigar a festa
o encontro
a paquera

e celebrar
o que a gente sempre quis

ser livre e feliz

Rodolfo Muanis, Julho de 2008.

13.7.08

Flip 2008! Poetas pelas ruas de Paraty! Parte 2

Caminhava pela rua quando debaixo de um guarda-chuva-de-palavras avistei


Um príncipe negro do gueto
de olhar triste e sorriso fácil
Poeta urbano suburbano
Solitário pardal paulistano
Sobrevivendo em floresta cinza
Pousado em puleiro sujo
Observando bolhas de aço
carregando gente


Era Giovani Baffo, autor do poema acima, que integra o seu livreto vendido à contrubuição espontânea durante a Flip. Prova viva do talento dos nossos poetas de rua brasileiros. Passei por ele, trocamos livros, e o recital começou pelas ruas de Paraty. O menor sarau do mundo dizia ele. Menor e melhor acrescentei. Quem nos viu e ouviu, sorriu e curtiu.

Pelo orkut, de volta a Sampa, Baffo me mandou este

São Paulo
é uma calamidade.
Eu disse chuva
inundou a cidade.

Lá por Paraty eu fiz esse pra ele

Tu
é um poeta
de guarda-chuva

Eu
ainda me molho


Giovani é poeta pra valer, da poesia viva e fácil, de sorriso largo e coração grande, com guarda-chuva aberto para a amizade.

Pra fechar mais um dele

Vá mulher, alçar altos vôos
no imenso e multicolor mundo seu...

deixe-me rastejar na tacanhez
do opaco mundo meu.

Vá mulher, pode partir sem culpa e com calma
esqueça o poeta que lhe entregou a alma.

E esse mesmo poeta se cala
e vai dormir sem saber,
se o amor ajuda ou atrapalha

(Giovani Baffo - Paraty 2008)






Eu acho que só ajuda vêio. É só não driblar a trave e sair com bola e tudo. : )






Abraços!

3.7.08

Flip 2008!


Na quarta-feira começou a Flip e amanhã de manhã estarei pousando em Parati como bom poeta aventureiro, distribuindo mil cópias da filipeta ao lado com o poema Cumplicidade, que na minha opinião tem tudo haver com a cidade litorânea do sul do Estado do Rio de Janeiro. Na mochila vão ainda alguns livros encalhados na estante que tentarei vender por lá. A gente se vê pela estrada. Abraços!

20.6.08

Convite nas Coxas!

Agora é pra valer e ninguém nos segura.

Não fomos convidados pra festa
mas como bons penetras
estaremos por lá pra comemorar.

Primeira Picareta Cultura de Paraty

E só chegar, confraternizar e curtir.

Não tá sabendo?

Clica aqui

http://www.melhorquenostemos.blogspot.com/

17.6.08

inéditos XXI

Voltando a falar sobre a mentira ....

Brado de um poeta decepcionado

E como mentem
comumente
diariamente

chegam a criticar
aquilo que também fazem
deslavadamente

com seus títulos acadêmicos
colonialmente
com seus postos de doutor
mascarando suas incompetências
evidentemente aparentes
perante a vida.

Se escondem
por dentro de um terno
de uma gravata colorida
de uma roupa bonita
de um cabelo pintado
com tintas de mercado.

Forçam até mesmo
ao mais honesto
a mentir também
fingir que está tudo bem.

E de tanto mentir
a verdade
já foi esquecida.

Já te pedem
num olhar de cego
que a falsidade
seja mantida.

E sentam-se a mesa
mentem.
Trepam com suas esposas
mentem.
Trepam com suas amantes
mentem.
Com ambas
mal e porcamente.

Isso se é que ainda trepam
realmente.

Trabalham
8, 10, 12, 14, 18, 20, 22,
24 horas por dia mentem.

Passam a vida mentindo
e nos domingos de sol
sorrindo.

E eu
de saco cheio
de tanta mentira
de tanta hipocrisia

escrevo no poema
a verdade
já que por aí
ela está proibida.

17 de junho de 2008.

10.6.08

poemas que dormem na estante XIX

Poemas de Amor

amor, que teço com teu fio? que traço
com teu raio, um risco, uma rosácea?
Rampante alfanje mandala que desfaço
e refaço num maio que me abala
a mente
amante
que constrange enlaço

***

amor. palavra gasta. arrisco
nos teus fios deixar-me
no teu charme no labirinto
do teu risco no sabor
da palavra gasta amor
nesse absinto tonto
de meu canto.

***

amor. os maios já se foram, ficam
figos ainda por colher. ficam
nas folhas luzindo os pirilampos
ardem em cio os campos
abrindo-se à raiz.

Ivo Barroso no livro A Caça Virtual, pág. 45, Editora Record.

2.6.08

Boaventura de Sousa Santos e a Escrita INKZ – anti-manifesto para uma arte incapaz (III)

Tenho o número de pernas suficiente
Para não me desequilibrar

Tenho faro
Não preciso de complexidade

O tédio é a vingança dos mortos
Aos que vivem mortos
Canine wisdow

Boaventura de Sousa Santos, pg. 85, no livro A Escrita INKZ – anti-manifesto para uma arte incapaz, Editora Aeroplano.

13.5.08

poemas que dormem na estante XVIII

Aproveitando o tema da mentira, abordado no poema anterior do Boaventura em sua Escrita INKZ, divulgo um pedido do poeta Affonso Romano de Sant´ Anna, que teve o seu poema A Implosão da Mentira divulgado pela Internet de forma incompleta. Seguem as palavras deste grande poeta ...

"AMIGOS:

em tempos de " apropriação" e malversação da obra alheia, circula na internet e no youtube uma versão pobre e estropiada do poema meu A IMPLOSÃO DA MENTIRA, publicado originalmente durante a última ditadura militar. Peço aos amigos que contra ataquem em seus blogs, sites e toda forma eletrônica de comunicação divulgando essa verdade textual.

Em tempo: cuidado com os que dizem que a verdade não existe e que é arte qualquer coisa que qualquer um chama de arte. É mais uma mentira a ser ex/implodida."

Grato pela divulgação, Affonso Romano de Sant’ Anna.

A Implosão da Mentira
Affonso Romano de Sant’ Anna

Fragmento 1

Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.

Fragmento 2

Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.

Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
E assim cada qual
mente industrial? mente,
mente partidária? mente,
mente incivil? mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constróem um país
de mentira
-diária/mente.


Fragmento 3

Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.
Mentem como se Colombo partin-
do do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.

Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percuso.

Fragmento 4

Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.

Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.


Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.

Fragmento 5

Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.
Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.


(Poema publicado no JB em 1984, quando do episódio do Rio Centro e em diversas antologias do autor. Está em “ Poesia Reunida” L&PM, v.2)

11.5.08

Boaventura de Sousa Santos e a Escrita INKZ – anti-manifesto para uma arte incapaz (II)

As medidas humanas
têm algo de errado de origem
Desemedem-se com frequência

Ninguém se ocupa deste desespero
Mas sei que existe
Quando se senta num banco de jardim

Chega a casa mente passa adiante
Chega à cama mente adormece
Levanta-se mente desaparece
Não se imagina um cão
Mentir com tanta consistência

Boaventura de Sousa Santos, pg. 23, no livro A Escrita INKZ – anti-manifesto para uma arte incapaz, Editora Aeroplano.

1.5.08

Boaventura de Sousa Santos e a Escrita INKZ – anti-manifesto para uma arte incapaz

Esta postagem não é um poema inédito, nem uma canção que toca no meu rádio, nem um poema que dorme na estante, nem recortes do antigo blog algumas pegadas.

Esta postagem foi uma forma que encontrei de explodir ao mundo uma leitura que tem me acompanhado nas últimas semanas, a Escrita INKZ – anti-manifesto para uma arte incapaz, do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. Um livro de poesias? Um livro de prosas? Ou um livro de indagações perante a condição cada vez mais precária do ser humano no mundo? Apenas uma arte incapaz coloca Boaventura. Estará a nossa geração cometendo os mesmos erros de nossos pais e avós e produzindo uma arte totalmente incapaz? Eu, sinceramente, acredito que vale dar uma parada em todas as engrenagens e olharmos um pouco ao nosso redor e refletir.

( pequena pausa diante à possibilidade de cada um )

Bem ... seguem trechos do Desfácio desta obra interessantíssima. Em breve postarei dela alguns poemas-latidos.

A minha geração não produziu nada de novo no domínio das artes. Isto não seria um grande problema se ela tivesse sabido usar produtivamente a sua esterilidade. Mas não foi o caso. Podia ter propiciado um novo encontro entre a arte e a vida. Devolver a arte a quem a trabalha quando trabalha. Mas tal não foi possível porque há páginas literárias, salas de concerto, departamentos de arte e de literatura, prêmios, galerias. A minha geração ficou assim condenada a celebrar a sua própria esterilidade e a usá-la para consumo interno. Por isso, já vimos tudo e, sobretudo, o déjà vu. Só não vimos artistas prontos a morrer. A minha geração não conheceu ninguém desse calibre. Em vez de morte, o cansaço. A minha geração foi feita de gente-cansaço, família-cansaço, sexo-cansaço, whisky-cansaço. Cansámos-nos para fugir ao imperativo da arte. Por fim, cansámo-nos para esquecer o cansaço. (...)

A Escrita INKZ não é poesia nem é prosa, não é pintura nem escultura, nem arquitectura. É uma arte incapaz. Não se sustenta nem se completa por si própria. Abre espaços para as manifestações artísticas dos outros, sejam eles artistas legais ou indocumentados, formais ou informais, oficiais, ou não-oficiais. (...)

A Escrita INKZ é incondicionalmente realista e a realidade que descreve pode ser pertubadora. Cada título ou estrofe é o princípio ou o fim de uma narrativa pessoal que cada leitor deverá imaginar e construir artisticamente. Porque o novo milênio ainda não conseguiu treinar a população em geral para este tipo de construção, há que ler e imaginar devagar. A Escrita INKZ é um medicamento escrito que deve ser consumido em doses individuais, segundo recomendações do próprio leitor. (...)

A Escrita INKZ é um conjunto de histórias rápidas e curtas para deixar espaço à imaginação artística de quem lê. (...)

A Escrita INKZ é uma arte incapaz porque só existe sob a forma de ausência ou emergência. A Escrita INKZ é uma ekfrase de tipo novo. A ekfrase é o termo de teoria literária para significar a descrição de uma obra de arte dentro de outra obra de arte. Por exemplo, um poema que descreve uma pintura. No caso da Escrita INKZ, a descrição é meramente potencial porque a obra de arte tem de estar ausente para que os leitores comuns e incomuns criem sobre ela as suas obras de arte. (...)

A Escrita INKZ parte da idéia que a subjectividade do novo milênio é constituída por seis mónadas: figura, cidade, andamento, momento, mulher nua e orador-nionguém. São o contrário dos heterônimos já que estão sempre presentes sob diferentes formas em tudo o que somos e, portanto, em toda a arte de que todos somos capazes. Todos somos figura, cidade, andamento, momento, mulher-nua e orador-ninguém. Cada um à sua maneira e segundo o tempo e o lugar. (...)

Além das seis mónadas, somos uma outra mónada, a mónada-cão. A mónada-cão é uma mónada muito especial porque não tem autonomia em relação às outras mónadas. A sua especificidade é ser a voz autônoma e livre das outras mónadas. Ou seja, cada mónada tem uma mónada-cão. Ao contrário do que pensava Leibniz, as mónadas não são entidades sem janelas. Têm janelas e essa janela é a mónada-cão.”

Boaventura de Sousa Santos no Desfácio do livro Escrita INKZ anti-manifesto para uma arte incapaz, págs. 11-17, Editora Aeroplano.

Observação:
Foram mantidas as normas e grafias de Portugal no recorte do livro.

Vocabulário :
Mónada: 1. Biol. Organismo ou unidade orgânica diminuta e muito simples. 2. Filos. Segundo Leibniz (v. leibniziano), cada uma das substâncias simples e de número infinito, de natureza psíquica (dotada de apercepção e apetição), e que não têm qualquer relação umas com as outras, que se agregam harmoniosamente por predeterminação da divindade, constituindo as coisas de que a natureza se compõe; enteléquia.

Enteléquia: Filos. 1. Segundo Aristóteles (v. aristotelismo), o resultado ou a plenitude ou a perfeição de uma transformação ou de uma criação, em oposição ao processo de que resulta tal criação ou transformação.
2. A forma ou a razão que determinam a transformação ou a criação de um ser.
3. Mônada (2).

Fonte: Dicionário Aurélio Eletrônico - Século XXI

19.4.08

inéditos XX

Sobre os rumos poéticos

Quando me arrisquei poeta
desconhecia quantos éramos.

Hoje eu sei que somos muitos
incontáveis as tantas estrelas.

Bradei por aí minhas palavras
e por vezes me recolhi
para lapidar minha lavra.

Nos livros
amadureci a riqueza dos versos
e reconheci que este aprender
não terá fim, será eterno.

Nas ruas, bares,
festivais e espaços culturais
dei vida a muitos poemas
e nestes momentos me senti completo.

E diante a incompletude da vida
sempre busquei sobreviver por outros meios.

A poesia seria meu presente à humanidade.

Até tentei as revistas, os jornais,
alguns catedráticos literários,
alguns poetas marginais,
a cara a tapa nos recitais,
na busca da crítica que me fizesse crescer,
ou do reconhecimento que me permitisse aparecer.

Mas conclui que já estavam comprados
todos os espaços dos jornais.

Há um momento
em que se apaga o sonho de viver da arte.

Mas a arte não se apaga de dentro de você
e vamos sonhando enquanto vivemos.
Amadurecendo nossa essência a cada dia.

Isso sim é viver poesia.

Pousar o verso num espaço livre.

Recitar um poema por prazer
e com um único compromisso:

iluminar o leitor.

Não precisar mais do mercado,
do parecer positivo de doutores letrados,
nem de eventos oba-oba e conchavos.

Ser apenas se inspirar
e deixar-se ser inspirado.

Ser para o desconhecido leitor
um punho ou uma flor.

Arma branca com a qual
ele possa reinventar sua história.

E fazer do seu momento pessoal
de luta, amor ou solidão...

Um momento universal.

(Rodolfo Muanis, Abril de 2008)

15.4.08

inéditos XIX

Carmenère Luiz Persona - Casa Valduga
Safra 2002 - Garrafa nº 2.498

Tua personalidade única
Tua cor rubi profunda
Com reflexos de púrpura

Tens notas de chocolate
Resquícios das especiarias
Que as naus buscavam no além mar

Tens taninos equilibrados
Na boca sabor de um beijo rosado
Daqueles que nos fazem sonhar

Corpo intenso e aveludado

Orgasmo nos lábios

(Rodolfo Muanis, Outubro de 2005)

10.4.08

inéditos XVIII

Ao sabor dos teus beijos

IV – Chardonnay Callia

na Madrugada que passou
inegável é o fato
de que domamos a tempestade
força do amor ou da vontade?

talvez tenha sido
o Chardonnay Callia em teus lábios

con collor amarillo intenso
y tus destellos verdosos
y tu aroma complejo
intensamente frutado
con bananas maduras
almendras tostadas,
duraznos y miel.


pleno e amplo em tua boca
trazendo aos nossos beijos
sabores frutados de abacaxi e pêra.

e eis que surge uma estrela
para eu fazer um pedido
que tenha certeza foi por nós dois

e depois,

posso dizer que aqueles fogos
explodindo sem nexo e sozinhos
eram os nossos corações
acionando os pavios de tantos carinhos.


(Rodolfo Muanis, Janeiro de 2008)

8.4.08

inéditos XVII

Ao sabor dos teus beijos

III – Ancelota / Tannat – Cave de Pedra Gran Reserva

a Urca de tantas batalhas esquecidas
com seus canhões adormecidos
enferrujando as histórias

a Urca de agora, amor inesquecível
nas areias a paixão acesa na memória

estrelas tantas, lua cheia, as marés
teus beijos, laços e abraços
e tantos carinhosos cafunés

és intensa, rubi profundo, límpida e cristalina
tens aroma de café e chocolate branco
amadurecendo em teus lábios
e equilibrando teu cassis

com mais um pouco viraríamos um cometa
entrelaçando corpos num universo sideral

chove o orvalho dos coqueiros
parecem saber de nossos desejos
da noite finda e o já anúncio da aurora

e descobrimos o encaixe perfeito
para nossa paixão ganhar duas rodas


(Rodolfo Muanis, Janeiro de 2008)