31.12.07

poemas que dormem na estante VII

Ano-Novo

Meia noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.

Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio

da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.

E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.

Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)

Ferreira Gullar no Livro Toda Poesia, 7.a edição, páginas 341-342

23.12.07

inéditos VIII

Ela e a Poesia

E a poesia que fora tão rara durante todo o ano reapareceu. Sorriu para mim numa mensagem. Trocamos livros e viramos novamente amigos. Ou melhor, sempre fomos amigos. Amigos não se fazem, os reconhecemos dizia Vinícius. Mas era mais que amizade. Havia fogo e desejo onde pousava o olhar. Ela que planta rosas em folhas em branco e sonha com planetas distantes onde mora o pequeno príncipe. Ela que sabe os segredos do deserto escritos nas asas de borboletas e lavadeiras. Ela que aquarela a beleza do mundo em traços e cores para o papel. Ela que num toque de fada, no girar de sua varinha, conserta o coração do poeta e faz a engrenagem novamente rodar. Ela que tem brilho nos olhos e paixão nos lábios. Ela que na delicadeza dos abraços, das mãos escorrendo rios pela pele, ferve por dentro o sentimento. Ela que sabe ser mãe, arriscando novas formas de amar, de cuidar, proteger dando liberdade para voar os pássaros engaiolados. Ela que tem um tom lindo quando é cor, delicioso quando é som. O sorriso, a fala, são vento soprando as brasas do meu peito. Ela que prosa minha poesia. Ela que é mar e cachoeira, pedal e motor. Ela que sentencia ser muito além das quatro as definições para o amor. Ela que agora é sonho, presente e alegria. Ela que me faz entender o porquê de ser poesia.

madrugada de 23 de dezembro de 2007

(Rodolfo Muanis - Dezembro de 2007)

21.12.07

inéditos VII

(à) e a vontade

a vontade
é de abrir a porta
da casa
do coração
da vida

para que possas entrar
e aos poucos
se sinta no aconchego do lar
se sinta bem à vontade
e para sempre queiras ficar

(Rodolfo Muanis - Dezembro de 2007)

20.12.07

Canções que tocam no meu violão I

Moça Bonita
(Geraldo Azevedo)

Moça bonita, seu corpo cheira
Ao botão da laranjeira
Eu também não sei se é
Imagine o desatino
É um cheiro de café
Ou é só cheiro feminino
Ou é só cheiro de mulher

Moça bonita, seu olho brilha
Qual estrela matutina
Eu também não sei se é
Imagina minha sina
É o brilho puro da fé
Ou é só brilho feminino
Ou é só brilho de mulher

Moça bonita, seu beijo pode
Me matar sem compaixão
Eu também não sei se é
Ou pura imaginação
Pra saber, você me dê
Esse beijo assassino
Nos seus braços de mulher

12.12.07

inéditos VI

Eu andei me apaixonando em silêncio

Primeiro foram só as cores e o tom
o vermelho dos cabelos
a delicadeza dos traços
o sentimento em cada gravura

Um dia eu compartilhei palavras
e o encanto mergulhou
no castanho dos olhos

Foi um terremoto que eu bem esperava
desabar num beijo

Hoje lendo poemas
eu acho que me perdi nos versos

Eu bem gostaria de estar errado

Mas me parece que o amor dela
é nostalgia
é outro número

E sendo assim é melhor
aceitar a impossibilidade
e (a)guardar toda poesia

Ah ... mas bem que eu queria
fazer da paixão em silêncio
alegria

(Rodolfo Muanis - Dezembro de 2007)

3.12.07

Canções que tocam no meu rádio I

Arte Longa Renato Rocha / Geraldo Amaral
Intérprete: Geraldo Azevedo

O mundo é grande para os nossos desencontros
a arte é longa vida breve fim
mas como pode o mar assim tão grande
caber num mundo tão pequeno assim

Meu violão não pesa muito
carrega tantas canções
fico pensando se um amor dos grandes
pode habitar pequenos corações

Meu sapato carregado de distâncias
o meu chapéu de sonhos sem fim
fico pensando que por mais que eu ande
eu não consigo me afastar de mim

CD - Geraldo Azevedo - ao vivo - Comigo - faixa 12